Após o anúncio de Donald Trump na quarta-feira (9) de impor um tarifaço de 50% para produtos brasileiros importados pelos Estados Unidos, os comentários das publicações do presidente norte-americano nas redes sociais foram tomados por brasileiros, revoltados com a medida.
"Brasil não é o seu quintal, Trump! Respeite a soberania do Brasil. E contenha-se no sonho voraz de nós dominar, e dominar nossas riquezas e capacidades!!! Viva o Brasil!!! Viva o Brics!!!", escreveu uma brasileira em uma publicação de Trump no Instagram.
Comentários exaltando a soberania brasileira são os mais frequentes.
"O Brasil é dos brasileiros!!! Somos um país democrático e soberano!!", escreveu outra usuária do Instagram.
Taxa de 50%
Trump comunicou a medida por meio da rede social Truth Social, publicando uma carta endereçada também ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que convocou uma reunião de emergência após o anúncio.
No texto, ele cita uma "caça às bruxas" contra Jair Bolsonaro, que a maneira como o Brasil tratou o ex-presidente é "uma desgraça internacional" e afirma que as tarifas se devem, "em parte devido aos ataques insidiosos do Brasil contra eleições livres e à violação fundamental da liberdade de expressão dos americanos" (leia a íntegra no fim da reportagem).
Trump também afirma que a "Suprema Corte brasileira", o STF, emitiu "centenas de ordens secretas e ilegais de censura para plataformas de mídia social dos EUA". Na carta, ele prossegue afirmando que os Estados Unidos devem se afastar do relacionamento comercial antigo com o Brasil, que classificou como "longe do recíproco" e "engendrado pelas tarifas brasileiras, políticas não tarifárias e barreiras comerciais".
Ele ameaça com aplicação de tarifas no mesmo valor — além dos 50% — caso haja retaliação do governo brasileiro.
Trump também escreveu que ordenará que o representante comercial dos Estados Unidos, Jamieson Greer, inicie imediatamente uma investigação da Seção 301 sobre o Brasil. O dispositivo da Lei de Comércio de 1974 dos Estados Unidos prevê que o governo pode investigar práticas de Estados estrangeiros consideradas injustas aos EUA. A legislação autoriza ainda a imposição de ações como resultado dessas apurações, inclusive tarifas.
O presidente americano justifica a medida "devido aos contínuos ataques do Brasil às atividades digitais das empresas americanas de internet, bem como a outras práticas comerciais injustas".
Resposta Brasileira
O presidente Lula respondeu à aplicação da taxa e afirmou que "qualquer medida de elevação de tarifas de forma unilateral será respondida à luz da Lei brasileira de Reciprocidade Econômica". "O Brasil é um país soberano com instituições independentes" e "que não aceitará ser tutelado por ninguém" (leia a íntegra no fim da reportagem).
Lula se refere à Lei da Reciprocidade Econômica, aprovada pela Câmara em 2 de abril. No mesmo dia, Trump anunciou tarifas para diversos países, que posteriormente foram suspensas. A legislação autoriza o governo a adotar medidas comerciais contra países e blocos que imponham barreiras unilaterais aos produtos do Brasil no mercado global.
Lula prossegue afirmando que o processo contra quem planejou golpe de Estado é de competência da Justiça brasileira. "Portanto, não está sujeito a nenhum tipo de ingerência ou ameaça que fira a independência das instituições nacionais".
Em relação às plataformas digitais, Lula diz que a liberdade de expressão "não se confunde com agressão ou práticas violentas". "Para operar em nosso país, todas as empresas nacionais e estrangeiras estão submetidas à legislação brasileira", escreveu.
O presidente classifica como falsa a informação de que há déficit na relação comercial com os Estados Unidos e aponta que estatísticas do próprio governo Trump "comprovam um superávit desse país no comércio de bens e serviços com o Brasil da ordem de 410 bilhões de dólares ao longo dos últimos 15 anos".
Carta de Trump
"A CASA BRANCA
WASHINGTON
9 de julho de 2025
Sua Excelência
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República Federativa do Brasil
Brasília
Caro Sr. Presidente:
Eu conheci e lidei com o ex-presidente Jair Bolsonaro, e o respeitei muito, assim como a maioria dos outros líderes de países. A maneira como o Brasil tratou o ex-presidente Bolsonaro — um líder altamente respeitado em todo o mundo durante seu mandato, inclusive pelos Estados Unidos — é uma desgraça internacional. Este julgamento não deveria estar acontecendo. É uma caça às bruxas que deve acabar IMEDIATAMENTE!
Devido, em parte, aos ataques insidiosos do Brasil às eleições livres e ao direito fundamental à liberdade de expressão dos americanos (como recentemente ilustrado pela Suprema Corte brasileira, que emitiu centenas de ordens SECRETAS e ILEGAIS de censura para plataformas de mídia social dos EUA, ameaçando-as com milhões de dólares em multas e expulsão do mercado brasileiro), a partir de 1º de agosto de 2025, cobraremos uma tarifa brasileira de 50% sobre qualquer produto brasileiro enviado aos Estados Unidos, separadamente das tarifas setoriais. Mercadorias transbordadas para evitar essa tarifa de 50% estarão sujeitas à tarifa mais alta.
Além disso, tivemos anos para discutir nosso relacionamento comercial com o Brasil e concluímos que devemos nos afastar do relacionamento antigo e muito injusto, engendrado pelas tarifas brasileiras, políticas não tarifárias e barreiras comerciais. Nosso relacionamento tem sido, infelizmente, longe do recíproco.
Por favor, entenda que a tarifa brasileira é menos do que o necessário para termos um campo de jogo justo dentro do seu próprio país. E é necessário saber como evitar a grave situação na qual nos encontramos agora. Como Sua Excelência sabe muito bem, se as empresas americanas decidirem construir ou fabricar produtos dentro dos Estados Unidos, e se depois precisarem obter aprovações rapidamente e de forma profissional — em outras palavras, em questão de semanas — isso será possível.
Se, por qualquer razão, você decidir aumentar suas Tarifas, então, qualquer que seja o número que você escolher para aumentá-las, será adicionado aos 50% que cobramos. Por favor, entenda que essas Tarifas são necessárias para corrigir os muitos anos de Tarifas, Políticas e Barreiras Comerciais Não-Tarifárias do Brasil, que causaram esses Déficits Comerciais insustentáveis contra os Estados Unidos. Este Déficit é uma grande ameaça à nossa Economia e, de fato, à nossa Segurança Nacional!
Além disso, devido aos contínuos ataques do Brasil às atividades digitais das empresas americanas de Internet, bem como a outras práticas comerciais injustas, estou direcionando o Representante Comercial dos Estados Unidos, Jamieson Greer, a iniciar imediatamente uma Investigação da Seção 301 sobre o Brasil.
Se você desejar abrir seus Mercados Comerciais — até agora fechados — para os Estados Unidos e eliminar suas Tarifas, Políticas e Barreiras Comerciais Não-Tarifárias, nós talvez consideremos um ajuste nesta carta. Essas Tarifas podem ser modificadas para cima ou para baixo, dependendo do nosso relacionamento com seu País. Você nunca ficará desapontado com os Estados Unidos da América.
Obrigado pela sua atenção a este assunto!
Com melhores votos,
Sinceramente,
DONALD J. TRUMP
PRESIDENTE DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA."
Nota de Lula
"Tendo em vista a manifestação pública do presidente norte-americano Donald Trump apresentada em uma rede social, na tarde desta quarta (9), é importante ressaltar:
O Brasil é um país soberano com instituições independentes que não aceitará ser tutelado por ninguém.
O processo judicial contra aqueles que planejaram o golpe de estado é de competência apenas da Justiça Brasileira e, portanto, não está sujeito a nenhum tipo de ingerência ou ameaça que fira a independência das instituições nacionais. No contexto das plataformas digitais, a sociedade brasileira rejeita conteúdos de ódio, racismo, pornografia infantil, golpes, fraudes, discursos contra os direitos humanos e a liberdade democrática.
No Brasil, liberdade de expressão não se confunde com agressão ou práticas violentas. Para operar em nosso país, todas as empresas nacionais e estrangeiras estão submetidas à legislação brasileira.
É falsa a informação, no caso da relação comercial entre Brasil e Estados Unidos, sobre o alegado déficit norte-americano. As estatísticas do próprio governo dos Estados Unidos comprovam um superávit desse país no comércio de bens e serviços com o Brasil da ordem de 410 bilhões de dólares ao longo dos últimos 15 anos. Neste sentido, qualquer medida de elevação de tarifas de forma unilateral será respondida à luz da Lei brasileira de Reciprocidade Econômica.
A soberania, o respeito e a defesa intransigente dos interesses do povo brasileiro são os valores que orientam a nossa relação com o mundo."