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Viúva Negra: saiba quais são os crimes da advogada gaúcha procurada pela Interpol

11/06/2025 às 16h05
Por: Depto de Jornalismo . Fonte: Com informações de Gaúcha ZH
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Foto: Elie Murad / Divulgação
Foto: Elie Murad / Divulgação

72 brasileiros são procurados pela Polícia Internacional (Interpol). Dentre todas essas pessoas incluídas no rol da Difusão Vermelha, no ranking de crimes hediondos, está uma gaúcha, a advogada Heloísa Gonçalves Duque Soares Ribeiro. 

Ou Heloísa Borba Gonçalves. Ou ainda Heloísa Duque Soares Lopes, Heloísa Saad ou Heloísa Lopes, nomes adquiridos depois de seis relacionamentos conjugais. Hoje com 75 anos, ela já foi investigada pela morte de quatro dos seis ex-companheiros, além de outros crimes. Está condenada por um homicídio, pelo qual é considerada foragida desde 2011.

Nascida e criada em Porto Alegre, Heloísa chamava a atenção pela beleza. E já no começo da carreira como advogada, na década de 1970, foi detida em Brasília por suspeita de aplicar golpes na Previdência Social. Os crimes ocorreram no Distrito Federal e nos Estados de São Paulo, Rio Grande do Sul e Goiás. Foi condenada a um ano de detenção em 1978 e chegou a ser presa, mas teve a penas suspensa posteriormente.

Em 1980, foi detida por falsidade ideológica, ao assinar um documento com outro nome. Não foi condenada. Mas, em 2007, acabou sentenciada por esse mesmo tipo de delito, a quatro anos e seis meses de prisão. O crime prescreveu em meio a recursos que ela impetrou contra a sentença.

Por duas décadas, Heloísa foi investigada por casos bem mais graves do que adulteração do nome, ao se envolver em episódios marcados por um rastro de sangue e balas, tendo como vítimas pessoas com as quais se relacionava. 

Primeira morte

A primeira vez em que seu nome surgiu em um caso de morte foi em 1971, quando o então namorado dela, o médico gaúcho Guenter Joerg Wolf, 38 anos, morreu na colisão de seu Karman-Ghia contra um caminhão, em uma viagem de Porto Alegre a Taquara, interior do Rio Grande do Sul. Heloísa não se envolveu no acidente. Com 21 anos, estava grávida de uma filha. Acabou herdando a casa do médico na capital gaúcha.

Namorado ferido

Em dezembro de 1977, um namorado de Heloísa, um advogado gaúcho, levou cinco tiros enquanto passava férias com ela em Salvador. Ele a acusou de tentar matá-lo, mas depois retirou a queixa e o caso acabou arquivado pela Polícia Civil. O casal teve um filho e se separou.

Segunda morte

Elie Murad / Divulgação

Heloísa, nos anos 1970, quando começaram os problemas com a lei. Foto: Elie Murad / Divulgação

Ao final dos anos 1970, Heloísa namorou com o securitário Irineu Duque Soares, indo morar no Rio de Janeiro. Em poucos meses, casaram-se, com comunhão total de bens. Foi também a primeira vez em que ela enviuvou. O carro do casal foi perseguido e emboscado a tiros por outro veículo em Magé (RJ). 

Soares morreu, Heloísa não foi atingida e foi investigada. Meses depois, a Polícia Civil concluiu que o crime fora um assalto e o suposto autor acabou morto em confronto com forças de segurança. Heloísa herdou, na viuvez, dois imóveis, carros e dinheiro.

Na década de 1980, já radicada no Rio, casou pela segunda vez, com um policial militar. Mesmo sem divórcio oficial, teria formado nova união, com o coronel do Exército Jorge Ribeiro, 54 anos, de quem se separou tempos depois. Porém, ainda casada com o PM, uniu-se novamente, ao comerciante de origem síria (e milionário) Nicolau Saad. Por estas duas uniões, Heloísa acabaria condenada por bigamia, em 2011, sentença também não cumprida.

Terceira e quarta mortes

Nicolau Saad ficou casado com Heloísa de maio de 1990 até dezembro de 1991, quando teve uma parada cardíaca e morreu, aos 71 anos. A viúva herdou dele, 30 anos mais velho, um patrimônio avaliado na época em R$ 30 milhões. Ela passou a usar uma procuração do marido para transferir imóveis para o seu nome, motivo pelo qual seria condenada por falsidade ideológica anos depois, em 2007.

Logo depois da morte de Saad, foi a vez do ex-marido Jorge Ribeiro morrer, em fevereiro de 1992. O coronel do Exército foi amarrado, torturado e morto com marretadas na cabeça enquanto esperava por candidatos a operários que deveriam trabalhar em uma obra em seu escritório em Copacabana, zona sul do Rio.  

Heloísa virou suspeita, pelos antecedentes de mortes misteriosas que a acompanhavam e também pelo fato de ser uma das últimas pessoas a ser vista em companhia de Ribeiro, na manhã da morte. A advogada foi acusada de ser a mandante do assassinato, de ajudar na execução do crime e de facilitar a fuga do matador, que nunca foi identificado. Heloisa respondeu ao processo em liberdade e desapareceu. A Secretaria da Segurança do Rio de Janeiro ofereceu uma recompensa de R$ 11 mil, nos anos 1990, por informações a respeito dela. A recompensa não existe mais.

A viúva sumiu do Brasil pouco antes do júri e foi julgada à revelia (quando o réu é comunicado oficialmente do processo e não se defende no julgamento). Seus advogados alegaram, à época, que não consideravam o júri válido, mas ela foi condenada a 18 anos de reclusão pelo homicídio qualificado de Jorge Ribeiro, em agosto de 2011.

Foi nessa época que a trajetória de Heloísa ganhou notoriedade a partir de reportagens do jornalista Herculano Barreto Filho. Gaúcho, com passagens por Zero Hora e diversos veículos do Rio e São Paulo, ele cobriu o julgamento e foi um dos impulsionadores do apelido Viúva Negra. A alcunha vem da aranha que mata o macho depois da cópula. 

"Quando descobri o caso, comecei a me debruçar sobre as histórias que já haviam sido contadas sobre ela e decidi aprofundar. Comecei a mergulhar em uma narrativa criminal fascinante. De lá para cá, nunca esqueci a Heloísa e segui fazendo coberturas com novidades dessa clássica história de 'true crime', até os tempos atuais", diz o jornalista.

Quinta, sexta e sétima mortes

Antes de ser julgada pela morte de Ribeiro e fugir do país, Heloísa se tornou suspeita de envolvimento em três outros homicídios. Após o assassinato do coronel, ela começou a namorar o comerciante libanês Wagih Elias Murad, 84 anos. Durou pouco a relação. Em maio de 1993, 10 meses após a morte de Ribeiro, o novo namorado, Murad, foi assassinado com seis tiros no Recreio dos Bandeirantes, zona oeste do Rio. Junto com ele foi morto um amigo dele, Wagner Laino, que estava no mesmo veículo.

Inconformado com a morte de Wagih Murad, um dos filhos dele, o administrador de empresas Elie Murad, contratou detetives particulares para investigar o homicídio. Em outubro de 1993, enquanto desenterrava o passado cheio de sangue e mistério de Heloísa, Elie foi alvo de um ataque a tiros que deixou uma bala alojada em sua nuca e matou o policial civil Luiz Marques da Motta, que o ajudava na investigação. Eles estavam em um carro na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, quando foram emboscados pelos ocupantes de outro veículo.

Heloísa chegou a ser denunciada pelos tiros sofridos pelos dois Murad (pai e filho) e pelo assassinato do policial civil, mas não chegou a ser julgada. Os juízes consideraram que não havia provas suficiente para julgamento. E o caso permanece sem sentença.

— O irônico, nisso tudo, é que a Heloísa tinha ido no meu casamento, meses antes do atentado contra mim — desabafa Elie, que hoje é cozinheiro profissional e concedeu entrevista para a reportagem.

Elie Murad / Arquivo Pessoal

Heloísa, em foto tirada no casamento de Elie Murad, que viria a se tornar o seu maior perseguidor. Foto: Elie Murad / Arquivo Pessoal

Investigações policiais apontam que, após as mortes misteriosas de ex-companheiros, Heloísa teria herdado bens no valor de mais de R$ 20 milhões ao longo dos anos.

Caçada internacional

Elie Murad / Divulgação

Heloísa, em foto publicada na Lista Vermelha da Interpol, criada para agilizar buscas a foragidos da Justiça. Foto: Elie Murad / Divulgação

Elie Murad se dedica desde 1993 à busca de rastros de Heloísa. Conseguiu localizar bens em nome dela no Rio e descobriu pistas sobre ela no Exterior. A Viúva Negra estaria residindo na Flórida (EUA), onde teria assinado documentos como Heloísa Saad Lopez, unindo sobrenomes de alguns de seus ex-companheiros.

Murad também afirma que familiares de Heloísa são donos de uma empresa de regularização de estrangeiros nos EUA e de uma empresa de transporte aéreo. Essas informações foram repassadas à Polícia Federal (PF), que por sua vez as repassou à Interpol.

Por que Heloisa ainda não foi presa?

E por que, se existem pistas de Heloísa nos EUA, ela continua sem ser presa? Murad tem uma suspeita: até pouco tempo atrás, o processo que condenou a Viúva Negra pelo assassinato de Jorge Ribeiro não tinha transitado em julgado — ou seja, ainda existiam recursos da defesa pendentes de análise. Muitos países se recusam a extraditar pessoas antes que sejam condenadas em última instância pelo Judiciário.

Acionada pela reportagem, a representação da Interpol no Rio Grande do Sul informa que a dificuldade é que a foragida é naturalizada americana (ela até estaria atuante no ramo empresarial), e os EUA não costumam extraditar nacionais. Em 15 de maio, o Ministério da Justiça (MJ) encaminhou um ofício pedindo atualização do caso às autoridades norte-americanas, mas ainda não obteve resposta. O pedido ainda não teria sido atendido.

O certo é que, quase 50 anos depois suas primeiras aparições no noticiário criminal, Heloísa segue foragida e é procurada em 190 países pela Interpol.

 

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