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Facção envolvida em homicídios e que teria construído prédio para lavar dinheiro é alvo de operação no RS

11/06/2025 às 10h52
Por: Depto de Jornalismo . Fonte: Gaúcha ZH
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 Grupo alvo da operação é investigado pelo envolvimento em homicídios e lavagem de dinheiro. Fotos: Ronaldo Bernardi / Agencia RBS
Grupo alvo da operação é investigado pelo envolvimento em homicídios e lavagem de dinheiro. Fotos: Ronaldo Bernardi / Agencia RBS

No fim de março deste ano, o corpo de um homem foi encontrado parcialmente carbonizado às margens do Guaíba, na zona sul de Porto Alegre. Uma facção criminosa, apontada como responsável por esse crime, é alvo de operação da Polícia Civil na manhã desta quarta-feira (11). O grupo é investigado pelo envolvimento em homicídios e lavagem de dinheiro.

São cumpridas 15 ordens judiciais em Porto Alegre e em Guaíba — são 12 mandados de busca e três de sequestro de veículos, durante a Operação Renovatio, pela Polícia Civil e Brigada Militar. Segundo a investigação da Delegacia de Polícia de Repressão ao Crime de Lavagem de Dinheiro do Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), a polícia identificou mais de R$ 10 milhões em movimentações financeiras suspeitas, de dezembro de 2021 até 2025.

Em novembro do ano passado, a Polícia Civil deflagrou a Operação Riciclaggio contra a mesma facção, com atuação na zona sul de Porto Alegre. O grupo, segundo a polícia, já era investigado por suspeita de envolvimento em homicídios ocorridos na Capital, e por lavar dinheiro do tráfico de drogas. 

A partir dessa primeira operação, a polícia seguiu investigando o grupo e concluiu que os envolvidos continuaram traficando na mesma região e mantiveram a forma de agir com relação à lavagem de dinheiro.

— É uma organização criminosa que atua na área do Cristal e na Lomba do Pinheiro. É uma organização que já tem lavado aproximadamente R$ 10 milhões. Nessa segunda fase da operação, nosso objetivo é também retirar bens adquiridos com dinheiro ilícito vinculado ao tráfico de drogas e, em especial, depois que ocorreu um homicídio em março, a operação acabou ocorrendo de forma mais rápida, com intuito de não atacar somente a lavagem, mas também inibir qualquer possibilidade de homicídio naquela região — detalhou o delegado Rodrigo Pohlmann Garcia, da Delegacia de Polícia de Repressão ao Crime de Lavagem de Dinheiro.

Um dos casos pelos quais a mesma facção é investigada é um homicídio ocorrido em 29 de março. O corpo de um homem de 51 anos, com as pernas amarradas, foi encontrado nas proximidades das margens do Guaíba. A vítima, segundo a polícia, tinha vínculo com o tráfico de drogas e antecedentes por homicídio e roubo entre outros.

— Trata-se de um homicídio cometido por essa facção, dentro desse contexto de crime organizado, e no qual se investiga uma ligação com o esquema de lavagem de dinheiro. A repressão ao crime de lavagem de dinheiro visa enfraquecer o poderio financeiro dos grupos criminosos, justamente para evitar que essas usem o dinheiro ilícito para financiar a prática de homicídios — disse o diretor do DHPP, delegado Mario Souza.

— A lavagem de dinheiro é uma prática criminosa que visa ocultar a origem ilícita de recursos financeiros obtidos por meio de atividades ilegais, como o tráfico de drogas, extorsão, corrupção e outros crimes. Essa operação tem como objetivo atacar diretamente o fluxo financeiro dessas organizações, enfraquecendo sua estrutura e capacidade de ação — afirmou o coronel Fábio Schmitt, à frente do Comando de Policiamento da Capital.

Celulares para facção 

A investigação da Polícia Civil apontou ainda para a compra de celulares que posteriormente eram fornecidos para integrantes do grupo dentro do sistema prisional. Um dos faccionados, segundo a polícia, comprou em uma loja de um shopping de Porto Alegre mais de 20 aparelhos, que foram remetidos para dentro de casas prisionais. Com isso, os criminosos conseguem manter a comunicação com os integrantes do grupo do lado de fora.

Dois irmãos são apontados como lideranças dessa facção, com atuação na zona Sul de Porto Alegre. Segundo a investigação, eles mantinham esquema de aquisição de diversos automóveis, alguns deles de alto padrão, em nomes de laranjas — pessoas normalmente sem antecedentes criminais que cedem, de forma voluntária ou involuntária, o nome, documentos ou conta bancária, para que transações financeiras sejam realizadas. 

Construção de prédio

Um dos irmãos teria, segundo a investigação, sido responsável pela compra de imóveis e pela construção de um prédio na zona leste da Capital. O imóvel, com 12 apartamento, está em fase final de obra. Para a Polícia Civil, isso demonstra o poderio econômico adquirido pelo grupo neste período. 

— Ele construiu um prédio numa área bastante grande na Lomba do Pinheiro, ao lado da sua casa, além da aquisição de outros apartamentos em um condomínio próximo da Lomba do Pinheiro. Chama bastante atenção o valor que ele dispende naqueles imóveis e bens adquiridos — afirmou Pohlmann.

Na residência do investigado, a polícia encontrou diversos telões, pelos quais ele monitorava a movimentação no entorno da casa. Esse alvo está em prisão domiciliar, com uso de tornozeleira eletrônica. 

— Ele tinha monitoramento de metade do quarteirão, que ele fazia o controle por videomonitoramento. Na última vez em que cumprimos mandados neste mesmo local, além de bens, foi apreendida uma pistola, então ele foi em flagrante, e, por isso, está como tornozeleira. Ele se disse cansado, inclusive, de tanto a polícia bater na sua porta. A manutenção daquele tipo de atividade fará com que certamente a polícia vá bater na sua porta — disse o delegado Pohlmann. 

Segundo a polícia, foram apreendidos na ação desta quarta-feira cerca de R$ 40 mil em espécie, quatro veículos, além de drone e joias. Esses itens teriam sido adquiridos com valores do tráfico. 

Operação Riciclaggio

Na operação em novembro do ano passado, foram cumpridas 125 ordens judiciais em Porto Alegre, Cachoeirinha, Canoas, Alvorada e Guaíba. 

Na ação, os policiais apreenderam veículos, R$ 70 mil em dinheiro, munições, uma carabina, dois fuzis e duas pistolas. Entre os fuzis apreendidos está um de calibre 762, de alto poder de fogo. Esse tipo de armamento de guerra é capaz de perfurar blindados, por exemplo.

Medidas contra homicídios

Operações de combate à lavagem de dinheiro estão entre as medidas realizadas pela Polícia Civil como forma de enfrentamento aos homicídios na Capital. A ação, segundo o diretor do DHPP, é uma das que está prevista no protocolo implementado em Porto Alegre, com intuito de coibir a prática de assassinatos pelo crime organizado.

— Essa operação contra lavagem de dinheiro que atinge um grupo criminoso envolvido em homicídios é resultante da aplicação da medida cinco do protocolo das sete medidas de enfrentamento aos homicídios, baseada na dissuasão focada, que objetiva asfixiar a  parte financeira dos grupos criminosos contra aqueles que optem por cometer homicídios — diz Souza. 

Além da medida contra as finanças da organização, há uma série de outras estratégias, como a saturação diária com reforço do policiamento na região, indiciamento de lideranças, executores, mandantes e líderes dos homicídios e também as transferências federais e estaduais, quando necessárias.

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