Quem é o artesão da região noroeste que fez a escultura jesuítica entregue ao papa Francisco

O artesão Diri, de São Nicolau, no noroeste gaúcho, não teve oportunidade de conhecer o Papa Francisco — mas sua arte chegou ao pontífice que morreu em 21 de abril e foi enterrado neste sábado (28), às 5h (horário de Brasília), na Basílica de Santa Maria Maggiore, em Roma.

Diri esculpe em pedras a cruz missioneira, símbolo das reduções jesuíticas no Rio Grande do Sul, e réplicas das ruínas de São Miguel das Missões. Uma de suas peças foi entregue a Francisco pelo governador Eduardo Leite em abril de 2024. 

Entre os presentes oferecidos pelo político gaúcho estavam camisetas do Internacional, Grêmio e Brasil de Pelotas — o time de Leite —, além da escultura de Diri das ruínas de São Miguel, um lembrete dos 400 anos da chegada das missões jesuíticas ao RS, celebrados em 2026. 

Na ocasião, o líder da igreja católica foi convidado a visitar o Estado no próximo ano, em celebração ao marco histórico. Francisco foi o primeiro papa jesuíta.

— Mas olha, eu fiquei chocado! O papa lá em Roma com um trabalhinho que a gente faz. É muito gratificante — disse o artesão, modesto. 

Diri produz suas peças em São Nicolau. A cidade teve a primeira redução jesuítica do Rio Grande do Sul, formada depois que o padre jesuíta Roque Gonzales atravessou o Rio Uruguai e fundou o primeiro povoado em terras do atual território do Estado.

Hoje a Região das Missões é formada por 26 municípios do noroeste gaúcho e ajuda a contar a história jesuítica e missioneira no Rio Grande do Sul a partir dos seus patrimônios, como o Sítio Histórico São Miguel Arcanjo, em São Miguel da Missões.

"Foi uma conversa muito gentil, muito amável, do Papa conosco. Ele agradeceu pelos presentes e pelo convite. E lembrou que já esteve muitas vezes na cidade de Pelotas, onde um tio dele morou", disse o Governador Eduardo Leite, em 17 de abril de 2024, depois de presentear Francisco.

Artesão há 20 anos 

Ter uma arte sua como presente para o papa Francisco foi a cereja do bolo de uma trajetória que começou ainda na adolescência, quando Diri esculpiu as primeiras miniaturas em pedra: caminhões, tratores e carros. 

Com a mesma atenção aos detalhes, ele aperfeiçoou a habilidade e passou a esculpir casas enquanto trabalhava na construção civil. Foi só mais tarde que dedicou-se aos símbolos missioneiros — corrente que se dedica exclusivamente até hoje. 

O ateliê onde Diri esculpe as peças fica em um galpão antigo ao lado de sua casa. A produção conta com ferramentas simples, como serrote e facas artesanais ou de cozinha. 

— Eu faço o molde da cruz missioneira do tamanho que o cliente quer. Aí coloco na pedra, risco e corto (a pedra) com o serrote — explica. 

Além dos símbolos jesuíticos, Diri também esculpe réplicas das igrejas de Gramado e Canela e prédios públicos sob encomenda.