Nas últimas décadas, foram inúmeras entrevistas e reportagens para mostrar uma tradição mais do que centenária da família Simões Pires, pois a Fazenda Boqueirão, a 2 km da Vila Block, no interior de São Sepé, mantinha um fogo de chão há mais de 200 anos. Porém, a chama foi extinta no último dia 8 de janeiro de 2025, e ficarão no galpão crioulo da propriedade apenas a tora de madeira e as lembranças dessa tradição que começou com os primeiros descendentes de portugueses da família Simões Pires que viveram na fazenda, há mais de dois séculos. A notícia tem dado grande repercussão, pois a pergunta que a maioria dos gaúchos e tradicionalistas se fazem é por que encerrar com essa tradição. Uma das donas da fazenda, a enfermeira aposentada Cláudia Pires Portella, 60 anos, diz que foi uma decisão amadurecida com o tempo.
- Há uns dois anos começamos a amadurecer essa ideia, de extinguir o fogo. Foi por uma questão ambiental, de preservação, pois vai muita lenha para manter o fogo acesa 24 horas por dia e 365 dias por ano. Não tínhamos mais lenha de fácil acesso, porque acabou o mato aqui em volta do galpão. A gente teria de abrir picada no mato e começar a cortar árvores nativas. Só que os tempos são outros e temos a preocupação ambiental hoje em dia. Porém, a história está lá, o galpão está lá, a tora de madeira também. Agora vamos contar outras histórias - conta Cláudia, que decidiu extinguir o fogo no dia 8 de janeiro de 2025, quando ela completou 60 anos, mas não sente remorso pela decisão.
Ela lembra que, na fazenda dedicada à criação de gado e ovelha, além do plantio de arroz e soja por arrendatários, moram atualmente quatro gerações da mesma família. Na "casa das quatro mulheres", vivem a matriarca Gilda Maria Faria Pires, 82 anos, professora aposentada, a filha Cláudia, a neta Luiza, 35 anos, veterinária; e a bisneta Ana Bárbara, 4 anos. Além das quatro, moram na fazenda o marido de Luiza e, aos finais de semana, o esposo de Claudia, que é engenheiro e passa a semana em Santa Maria. Um caseiro e a família também vivem na propriedade que, segundo Claudia, era muito visitada por amantes da cultura gaúcha, curiosos por conhecer pessoalmente o fogo de chão centenário.
Até gente de outros países vinha aqui para conhecer. A gente nunca cobrou entrada, mostrava essa tradição da família. Com a internet, muitas pessoas achavam onde era a fazenda e vinham para visitar - conta Claudia.
Ela lembra que o galpão e o fogo de chão tiveram mais utilidade no século passado, quando ainda eram usados para fazer comida, na época que não existiam fogões.
- A gente usou o galpão no dia a dia até 1995, porque meu pai (José Virissimo Simões Pires) ficava ali todos os dias e recebia os amigos. Depois que ele faleceu, em 1995, deixamos de ir diaramente para o galpão e ficou só o fogo de chão por conta dessa tradição da chama acesa por mais de 200 anos - lembra Cláudia.
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