A Polícia Civil concluiu que a equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) modificou a cena onde Patrícia Rosa dos Santos, 41 anos, foi encontrada morta. Ela morreu em 22 de outubro, em Canoas, na Região Metropolitana. O principal suspeito é o marido da vítima, André Lorscheitter Baptista, 48 anos, que também é médico do Samu. Todos os profissionais foram indiciados.
Conforme a o delegado Arthur Reguse, da Delegacia de Homicídios de Canoas, a equipe formada por um médico, um enfermeiro e o motorista chegou ao apartamento da vítima, no bairro Igara, por volta das 6h50min. Eles deixaram o local às 8h20min. A investigação apontou que eles ajudaram Baptista a alterar a cena do crime.
De acordo com a polícia, Patrícia morreu no sofá ainda na madrugada do dia 21 de outubro. Mas seu corpo foi colocado no quarto do casal. Além de movimentarem a vítima, também houve alterações de elementos essenciais para a investigação.
Os nomes dos profissionais do Samu não foram divulgados, no entanto, a reportagem apurou se que trata de Alexandre Deves, Cesar Augusto dos Santos de Oliveira e José Adir da Silveira Cortes. Em depoimento à polícia, eles negaram envolvimento no crime.
Conforme nota enviada pela Secretaria Municipal da Saúde de Canoas nesta sexta-feira (8), a prefeitura notificou a empresa terceirizada responsável pela gestão do Samu para que os fatos sejam esclarecidos.
O atestado de óbito que apontava morte por infarto agudo do miocárdio foi assinado pelo médico Alexandre Deves. No entanto, o laudo do Instituto-Geral de Perícias (IGP) apontou a presença de medicamentos no sangue da vítima.
Segundo a investigação, Baptista teria colocado remédio em um sorvete para fazer a vítima dormir, administrado uma medicação para que a esposa não sentisse dor e injetado outro remédio para matá-la. A injeção letal teria sido feita em um dos pés da vítima.
O médico foi indiciado pela polícia por falsidade ideológica, adulteração de local de crime, feminicídio qualificado e furto qualificado.
Prisão
André Lorscheitter Baptista foi preso no dia 29 de outubro e encaminhado à Penitenciária Estadual de Canoas (Pecan) na última segunda-feira (4).
Em nota, a defesa de Baptista nega o crime e afirma que o médico é inocente das acusações (leia abaixo nota na íntegra). Além disso, destaca que a investigação da polícia não foi conduzida com a necessária imparcialidade. Ainda segundo a nota, o inquérito foi concluído sem que testemunhas indicadas pela defesa fossem ouvidas.
Para o advogado do médico, Luiz Felipe Mallmann de Magalhães, a polícia não apresentou motivação para o possível feminicídio.
Furto de sedativo
No dia 1º de novembro, o Samu de Porto Alegre apontou que um frasco de sedativo foi furtado durante o plantão de Baptista.
Conforme nota enviada pela Secretaria Municipal da Saúde da Capital, o furto aconteceu às 7h do dia 21, na véspera da morte de Patrícia. Neste horário, o médico estaria fazendo a troca do plantão. Ele trabalhava para uma empresa terceirizada que prestava serviços ao Samu da Capital e de Canoas.
Durante a investigação, a Polícia Civil realizou uma operação no prédio onde seria o consultório do médico. No local, que fica no bairro Petrópolis, em Porto Alegre, foram encontradas caixas de medicamentos, incluindo ampolas de sedativos e relaxante muscular. Essas substâncias teriam sido injetadas na vítima.
Contrapontos
O que dizem Alexandre Deves, Cesar Augusto dos Santos de Oliveira e José Adir da Silveira Cortes
Em depoimento à polícia, eles negaram envolvimento no crime.
A reportagem busca contato com os profissionais de saúde e suas defesas. O espaço segue aberto.
O que diz a defesa de André Lorscheitter Baptista
"Em atenção à imprensa e à sociedade, e considerando os recentes desdobramentos do caso envolvendo o Sr. André Lorscheitter Baptista, sua defesa técnica, representada pelo advogado Luiz Felipe Mallmann de Magalhães, vem a público prestar os seguintes esclarecimentos que considera necessários ao momento.
Sobre o apressado indiciamento de André pelo suposto crime de feminicídio contra sua então esposa, Patrícia Rosa dos Santos, e demais crimes correlatos, a defesa reafirma que o investigado nega veementemente qualquer envolvimento no ocorrido, sendo totalmente inocente das acusações imputadas, e reitera que as circunstâncias apontadas não condizem com a verdade dos fatos.
Com todo o respeito à instituição da Polícia Civil, a defesa técnica destaca que o procedimento de apuração não foi conduzido com a necessária imparcialidade, tendo-se observado desde o início uma clara tendência de direcionar a investigação para uma única linha de suspeita, com foco em reunir elementos para imputar a culpa a André, sem considerar adequadamente todas as informações disponíveis.
Isso é evidenciado pelo fato de que o inquérito foi concluído sem a oitiva de diversas testemunhas indicadas pela defesa, que poderiam contribuir significativamente para o esclarecimento dos fatos.
Outro ponto de destaque é o fato de que o indiciamento por feminicídio se deu sem a apresentação de qualquer motivação. Não há, em momento algum, qualquer prova ou indício que sustente a alegação de uma possível motivação – obviamente inexistente - para o crime, lacuna na fundamentação do indiciamento que reforça ainda mais a improcedência das acusações.
Ademais, a defesa repudia a postura do Delegado de Polícia ao utilizar o caso como meio de autopromoção, ao divulgar à imprensa informações e elementos do inquérito aos quais a defesa ainda não teria tido acesso ou que sequer estavam documentados no procedimento investigatório, conduta essa que compromete a transparência da apuração e a confiança na Instituição.
André Lorscheitter Baptista seguirá firme na defesa de sua inocência e confia que, dentro dos procedimentos legais cabíveis, conseguirá comprovar a falsidade das acusações que lhe são imputadas. Sua defesa continuará atuando com rigor e respeito, buscando sempre o esclarecimento da verdade".
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