Há mais de uma semana, a família de Patricia Rosa dos Santos vive a dor do luto pela perda da enfermeira de 40 anos, encontrada morta no apartamento onde vivia com o marido. O médico André Lorscheitter Baptista, suspeito de matar a esposa usando medicação restrita a hospitais em Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre, está preso desde terça-feira (29).
'Ela dormia com o inimigo', diz Priscila Rosa dos Santos, irmã mais velha de Patricia.
O crime aconteceu em 22 de outubro. A reportagem procurou a defesa de Baptista, que disse que irá se manifestar após ter acesso ao inquérito. No entanto, o médico alega que não matou a mulher.
A Polícia Civil afirma que no dia do crime, por volta das 8h, o médico ligou para os familiares da esposa comunicando a morte dela. Quando os parentes chegaram na residência do casal, o suspeito apresentou um atestado de outro médico do Samu, que informava como causa da morte infarto agudo no miocárdio. Foi o que fez com que os familiares desconfiassem do que havia acontecido e acionassem a polícia, o que deu início à investigação.
"Ele sempre foi esquisito, sempre foi estranho, sempre foi diferente. E ela acreditou nele. Ele manipulava, ele conseguia fazer ela acreditar que ele era bom", revela a irmã.
De acordo com o delegado, Baptista foi levado para uma casa prisional.
Patricia também deixa um filho de dois anos.
"O sonho dela era ser mãe", relata Priscila. "Eu sempre disse pra ela: 'é a melhor mãe do mundo'", conta.
Na noite de quarta-feira (30), em uma Igreja no bairro Niterói, em Canoas, os pais, irmãos, parentes e amigos da enfermeira participaram da missa de sétimo dia. Os conhecidos de Patricia usavam uma camiseta branca com uma foto da enfermeira.
Para o pai da vítima, João Carlos do Santos, o que fica é a saudade:
"Minha filha é uma pessoa muito especial", diz Santos. "Agradeço a Deus por ter essa filha tão maravilhosa na minha vida", conclui.
Investigação
Os medicamentos encontrados em uma mochila que estava dentro do carro do médico eram Zolpidem, Midazolam e Succitrat, os dois últimos de uso restrito, além de gaze, agulhas e outros insumos médicos.
Baptista contou à polícia que a esposa havia dormido no sofá do imóvel após comer sorvete, mas ela foi encontrada morta em outro cômodo da casa.
"Ele é médico emergencista do Samu, mas não teria realizado manobras cardiorrespiratórias para salvá-la, ainda que tenha conseguido um laudo de outro médico apontando a causa da morte como natural, por infarto agudo no miocárdio", relata o delegado.
Após perícia na sobremesa, foi encontrado Zolpidem no pote, que a investigação indica que foi usado para fazer a vítima dormir.
O Instituto-Geral de Perícias (IGP) encontrou marcas de injeção em um dos braços e em um dos pés da vítima, que a polícia acredita que foi por onde o médico administrou os outros remédios. Gaze com sangue também foi identificada.
"Nós acreditamos que ele usou Midazolam para fazer a vítima não sentir dor e o Succitrat para matá-la, que é uma medicação que exige ventilação imediata", explica Reguse, já que os remédios exigem a intubação do paciente para evitar a morte.
Motivação para o crime
Para a Polícia Civil, ainda não está claro o que motivou o médico a matar a esposa. No entanto, ao longo da investigação, um episódio entre o casal chamou a atenção das autoridades: ele já teria dopado a esposa anteriormente, mas com o objetivo de forçar um aborto. A manobra não deu certo.
"Patricia teve o filho, que nasceu saudável e hoje tem 2 anos. Ele dopou ela administrando uma medicação e inseriu instrumentos médicos no interior do útero com o objetivo de causar o aborto", conta Reguse.
Segundo familiares, não haveria histórico de violência entre os dois além desse caso. Não há informações a respeito de um possível desacerto entre os dois, como um término do relacionamento, também. A Polícia Civil segue investigando a ocorrência.
Zolpidem
Indicada para tratamentos com o prazo máximo de quatro semanas, a droga age no sistema nervoso central e induz o sono em menos de 30 minutos.
O aumento do número de relatos de uso irregular e abusivo relacionados ao Zolpidem fez com que o medicamento ganhasse uma nova classificação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Desde agosto, a disponibilização só é permitida mediante prescrição médica do tipo azul, de controle mais rigoroso que a tarja vermelha (como eram comercializadas as caixas com doses de 5mg e 10 mg até então).
Mín. 16° Máx. 34°