O diretor do Departamento de Regulação Estadual na Secretaria Estadual da Saúde, Eduardo Elsade, enviou um áudio ao coordenador médico do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) no Rio Grande do Sul, Jimmy Herrera, no qual determina que uma médica que se ausentou do trabalho não seja punida. Na gravação, obtida com exclusividade pela RBS TV, Elsade estabelece que não seja aberta investigação contra ela, nem seja aplicada advertência. (Ouça acima)
"Não tem advertência. Tu pode, no máximo, chamar ela, dizer que tal, que passou pra direção, e a gente segurou, tá? Mas que, a partir do mês que vem etc, etc, aquilo tudo, tá?", diz o diretor no áudio.
A responsável pelo controle do ponto da central do Samu, Carla Berger, informou que só vai se manifestar na sindicância aberta para apurar o caso. A médica Giordana Vargas Correa, que teria se ausentado do trabalho, o diretor Eduardo Elsade e a Secretaria Estadual da Saúde não se manifestaram.
A denúncia que Elsade afirma ter segurado é contra a médica Giordana Vargas Correa. Durante um período da madrugada de 6 de junho, ela era a única plantonista de um total de sete médicos escalados para trabalhar. Além de cumprir uma carga horária menor, ela ficou ausente por 31 minutos, entre 5h58 e 6h29.
"A única plantonista que se encontrava de plantão sumiu, foi dormir, foi não sei aonde. Ela desapareceu do plantão. Até que ela voltou. Depois que acabou o plantão, que aquele tumulto passou, eu fiz uma comunicação direta às chefias e nenhuma conduta foi tomada", afirma o ex-enfermeiro do Samu e autor das denúncias Cleiton Felix.
O coordenador médico do Samu confirma que o diretor de regulação se omitiu no caso.
"Teria que ter sido aberto um PAD [Processo Administrativo Disciplinar], né? E ela teria que ser chamada para dar explicações, né? Ou seja, o diretor se omitiu. Ele pediu para que eu conversasse com ela, mas conversar só não adianta, né? Então eu me eximi de falar com ela, porque chamar só para conversar não resolve, né?", alegou Herrera.
Em outro trecho do áudio enviado ao coordenador, Elsade orienta que Carla Berger, responsável pelo controle do ponto da central do Samu, mantenha o que vem "sendo feito até hoje" e reafirma que "não tem filmagem, advertência".
"Fala com a Carla [Berger], tá? Nós vamos manter os ajustes desse mês, tá? Não muda nada, ela faz exatamente o que fez até hoje, tá? E a partir do mês que vem nós vamos começar o ajuste do teletrabalho e controle, tudo dentro do decreto do governador, de teletrabalho etc, etc. É isso que eu quero, não tem filmagem, advertência etc", determina o diretor.
De acordo com Jimmy Herrera, "manter o que vem sendo feito até hoje" diz respeito às fraude no controle do ponto. As justificativas que aparecem nos registros são compensação autorizada e falha no controle do relógio de ponto.
A central de regulação do Samu atende aos chamados, via telefone 192, de 493 municípios do RS. Em 269, os médicos também são responsáveis por despachar as ambulâncias e indicar os hospitais para onde os pacientes serão levados.
Promessa de punição
Na segunda-feira (28), a secretária estadual da Saúde, Arita Bergmann, gravou um pedido de desculpas. A sindicância aberta pela pasta para apurar o caso tem prazo de 30 dias para ser concluída. Um sistema de câmeras e catracas para controlar entradas e saídas no local também deve ser instalado.
"Estou muito triste de ter que testemunhar, em 50 anos de vida profissional, matérias desse foco. Por isso, nós do governo do estado queremos, com três palavras, dizer o que estamos imprimindo: um, apurar todas as possíveis e eventuais irregularidades; dois, corrigir com muito rigor o que está errado, sendo comprovados erros; e três, punir quem não cumpriu com a sua jornada de trabalho", listou.
O Ministério da Saúde informou que pode suspender os repasses de R$ 25 milhões por ano ao Samu, caso as denúncias forem comprovadas.
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